segunda-feira, fevereiro 18

Lucas Cranach






Lucas Cranach
(Kronach, perto de Bamberg, 1472 - Weimar, 1553)

Os seus nus mitológicos são famosos, mas acho particularmente belos os retratos de pessoas reais.
A propósito, o imponente homem de barbas brancas e roupa escura é o próprio Lucas Cranach.

sábado, fevereiro 16

Tiroteio na Universidade de Ilinois




Estas três fotografias mostram, respectivamente, o autor dos disparos e alguns estudantes manifestando as dolorosas emoções que resultaram do ocorrido.
O autor do tiroteio tinha a aparência de uma pessoa bem disposta e tranquila, apesar de apresentar em família comportamentos bizarros, como a auto-mutilação. A família procurou que se tratasse, mas ele nem sequer se considerava doente.
Comprou as armas num armeiro e em conformidade com as exigências legais, pois não tinha cadastro. Num triste dia de Fevereiro, entrou pela sua antiga Universidade e desatou aos tiros numa aula de Geologia, matando vários alunos e ferindo outros -para além do professor da cadeira- antes de se suicidar.

Olhando para as fotografias, percebemos que todos sabem que podia ter sido cada um deles a morrer às mãos do ex-aluno. Não é só a dor, o pavor e a tristeza pelo ocorrido e pela morte dos colegas: é a consciência de não saberem muito bem como puderam escapar à terrível ceifeira. A consciência de que estiveram metidos num carrossel medonho que nada fazia prever e nada parece capaz de exorcizar.

É assustador.
Porque basta um ser humano perturbado para desencadear uma tragédia sem fim.
Nos últimos dias, houve vários casos de tiroteio em estabelecimentos de ensino nos States. PORQUÊ é decerto a pergunta crucial, para a qual não será fácil encontrar resposta. Pelo que não será fácil evitar que ocorram mais casos.

sexta-feira, fevereiro 15

Harold and Maude



AQUI
Realizado em 1971. Filme de culto para muitos. Humor sombrio e amor à vida. Não cabe em rótulos apressados.

terça-feira, fevereiro 12

Os Erros


No que se refere à conduta, já há muito tinha notado que por vezes é necessário seguir como certas opiniões que sabemos serem muito incertas. Mas agora que resolvi dedicar-me apenas à descoberta da verdade, pensei que era necessário proceder exactamente ao contrário, e rejeitar como falso tudo aquilo que pudesse suscitar a menor dúvida, para ver se depois disso algo restaria nas minhas opiniões que fosse absolutamente indubitável.

Assim, porque os nossos sentidos por vezes nos enganam, decidi supor que nos enganam sempre. E porque há pessoas que se enganam ao raciocinar, até nos aspectos mais simples da geometria, fazendo raciocínios incorrectos, rejeitei como falsas todas as razões que até então me tinham parecido aceitáveis, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outra pessoa. Por fim, considerando que os pensamentos que temos quando estamos acordados podem ocorrer também quando dormimos, não sendo neste caso verdadeiros, resolvi supor que tudo o que até então tinha acolhido no meu pensamento não era mais verdadeiro do que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo a seguir notei que enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim pensava, necessariamente era alguma coisa.

E tendo notado que esta verdade eu penso logo existo era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a poderia aceitar sem escrúpulo como primeiro princípio da filosofia que procurava.
Discurso do Método

Todas as formas de pensar que observamos em nós podem ser referidas a duas gerais: uma consiste em apreender através do nosso entendimento, a outra a determinar-se pela vontade. Deste modo, sentir, imaginar e mesmo conceber coisas puramente inteligíveis, não são mais do que maneiras diferentes de apreender; mas desejar, ter aversão, afirmar, negar, duvidar, são diferentes formas de querer.

Quando apreendemos alguma coisa, não corremos o risco de nos enganarmos se não a julgarmos de um modo algum; e, ainda que a ajuizemos, não nos enganaremos se só dermos a nossa aprovação àquilo que sabemos clara e distintamente estar compreendido no que ajuizamos. Mas o que faz com que habitualmente nos enganemos é que estabelecemos juízos muitas vezes sem ter um conhecimento muito exacto daquilo que julgamos.
Princípios da Filosofia

Posto isto, qual a razão que leva os entendidos a falar apenas da crítica de Descartes aos ERROS DOS SENTIDOS? Não será bastante evidente que ele fala também dos erros de raciocínio?

sábado, fevereiro 9

Não, não estamos nos nossos melhores dias...


Nem sempre concordo com JPP, mas desta vez...
Cito apenas um pequena parte, mas diria que vale a pena ler tudo.


Pensando bem, não admira que, com este dia-a-dia, fiquemos tão intimamente absurdos como os maoístas nacionais, nos quais eu me incluía, que queriam derrubar o "quartel-general" à força de dazibaos. O nosso maoísmo dos dias de hoje é, imagine-se, o glamour da monarquia. Não a inglesa, nem a sueca, nem a do Brunei, o que ainda se percebia, mas a dos Braganças, o que não se percebe de todo. Não, não estamos nos nossos melhores dias...
(...)
O Rei D. Carlos era um homem estimável, com boas virtudes e dedicações científicas e estéticas pouco comuns nos Braganças, com pecados simpáticos, que foi um crime matar e que mais do que merecia a banda militar a tocar nas cerimónias? De certeza que sim, mas não o façam ser o que não foi. Oh! Homens e mulheres do Senhor arredondado, para os regicidas da época aconselho um dos melhores e mais fascinantes textos de Eça, ao modo de Jorge Luís Borges, perdido nas Notas Contemporâneas, sobre o assassino de Canovas del Castillo, ou o Agente Secreto do genial Conrad, para se olhar para estas coisas com outros olhos, nem carbonários, nem beatos. Para o resto, peguem numa lupa e vão ver as fotografias dos "palácios reais", as fotografias dos grandes e médios eventos desses anos finais da monarquia e podem continuar pela República e pelo Estado Novo dentro e vejam o Portugal que lá está ao lado da Família Real nos vasos partidos segurados com arame, nas louças com "gatos", nos jardins pouco cuidados, nos espelhos com a prata gasta, nas roupas puídas e usadas, nas decorações erguidas de madeira e papelão, no tom de abandono, descuido e pouca limpeza, que nem a hierarquia do upstairs e do downstairs servia para funcionar bem, não porque não houvesse muita criadagem, mas porque faltavam os mordomos ingleses. Esse mundo que tomam por brilhante e cosmopolita era o mesmo Portugal que hoje pretendem esconjurar porque "feio, porco e mau", o mesmo Portugal - oh sinistro adjectivo! -, "piroso", de que pensam fugir conhecendo os vinhos de casta, comprando relógios Patek Philipe para entesourar, caçando vestidos de duendes verdes, fazendo subir o preço do Almanaque de Gotha nos leilões, e passeando-se por resorts e spas. Não, não estamos nos nossos melhores dias...
José Pacheco Pereira , 9 de Fevereiro 2008

sexta-feira, fevereiro 1

A Necessidade e o Engenho


Ela estava deitada na cama, um colchão pousado no chão da casa nova. Transpirava abundantemente e tossia como o Krakatoa, expelindo detritos desagradáveis. Nos intervalos da tosse, recostava-se com um suspiro cansado e dormitava.

Tocaram à porta, e - sinal evidente de delírio - acreditou que era o canalizador que esperava desde a véspera. Com mãos trémulas e pálidas, vestiu o roupão bem quente e arrastou-se até à porta, que abriu sem qualquer inspecção prévia através do óculo. Ficou paralisada quando em vez do canalizador viu na sua frente dois homens jovens e altos, cabelo à escovinha, camisa branca, calças escuras, mala a tiracolo, livrinho na a mão e sorriso publicitário na cara:
"Bolas!- pensou, desesperada no meio da febre- Só me faltavam estes!" e foi articulando, atabalhoadamente:
- Desculpem, mas estou muito doente. Não posso ficar aqui na conversa!
- Precisamente: está doente! Não acha que Deus podia podia curá-la, devolver-lhe a saúde?
"Bem... tenho que ser rápida e certeira, ou estou perdida!". Respirou fundo, e respondeu de modo suave e delicado:
- Sabem, não sei! Ultimamente não O tenho visto... Não se importam de Lhe perguntar directamente a Ele?
E, enquanto os visitantes se entreolhavam, fechou a porta gentilmente com um Boa Tarde muito doce!