sábado, junho 2

Camilo Castelo Branco



Camilo tem verdadeiro talento. No entanto, apenas uma das suas obras é verdadeiramente inesgotável, para mim. Releio-a frequentemente. Falo de A QUEDA DE UM ANJO. Esta obra é de um humor perfeito. Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado da Agra de Freimas, reside no solar de Caçarelhos com a sua estimável prima e mulher D. Teodora Barbuda de Figueiroa, morgada de Travanca, "senhora de raro aviso, e muito apontada em amanho de casa, e ignorante mais que o necessário para ter juízo". A morgada "remendava sempre e cerzia com perfeição justamente admirada entre a família e falada como exemplo na área de quatro léguas, ou mais", enquanto o morgado lia, até altas horas, "cronicões, histórias eclesiásticas, biografias de varões preclaros" - tudo obras com pelo menos cento e cinquenta anos. Politicamente, "estava com as cortes de Lamego" de 1145. E assim fica, logo nas primeiras páginas, definido o ANJO a cuja queda vamos assistir.
E que queda, realmente! É delicioso o modo como Camilo descreve o morgado em todos os momentos da jornada que o transporta das cortes de Lamego até ao século XIX. Uma verdadeira obra-prima.

4 comentários:

""#$ disse...

E quando ele vai beber agua a uma fonte, baseado em livros de há 400 anos atrás?
ui..ui..

Eurydice disse...

Sim... e arranja casa em Alfama,baseado nos mesmos autores fidedignos!... ehhehe
Ontem recomecei mais uma vez a leitura desta obra que me faz rir sempre com o mesmo gosto, e que continua tão actual nos problemas que levanta sobre a natureza humana...
Vejo que também aprecia, Pedro!... :)

Anónimo disse...

e de que maneira.

HÁ lá um discurso e um contra discurso na assembleia feito pelo morgado e pelo opositor do partido da oposição que são dignos daquela outra figura que nós conhecemos d eum outro blog......

Eurydice disse...

Sim, deve ser um antepassado pelo menos MORAL de sua excelência o Comendador!
Estou precisamente no discurso do Libório.
E depois aquelas descrições precisas de Camilo sobre as acções dos vários personagens! Tudo muito factual e com um vocabulário que só por si distancia o autor daquilo que descreve e realça o ridículo das situações.