sexta-feira, abril 20

Pensamentos soltos

Um dos livros que impressionou a minha adolescência, foi UM SOCIALISTA INSOCIÁVEL, de Bernard Shaw. Se bem me recordo, retrata um socialista (no sentido que a palavra tem para os anglo-saxões) iconoclasta, em tudo avesso às convenções e profundamente misantropo. Uma lufada de ar fresco para quem crescia num mundo convencional e altamente normativo, e um interessante paradoxo. Talvez devesse relê-lo!

Mas hoje recordei-o a propósito de uma dúvida que muitas vezes me assalta.

É que tenho encontrado, em diferentes momentos da minha vida, pessoas que, professando um profundo amor à Humanidade em geral, são incapazes de ser atenciosos com os mais chegados. A sua consciência social parece exercer-se apenas no abstracto, e votam conscienciosamente no partido que consideram defender melhor os interesses dos menos favorecidos. Mas têm pouca paciência para as conversas minimalistas da empregada de limpeza, culpam o povo porque só discute "futebol" "telenovelas" e "gajas", e não fazem esforço nenhum para reparar que a porteira precisa de uma palavra amável porque está obviamente num dia mau.

A minha pergunta é: PORQUÊ?
Sou só eu que vejo aqui uma desagradável contradição?

2 comentários:

Alda Serras disse...

Porque é fácil ser bonzinho na teoria. Porque o mundo vive de aparências, olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço. Porque se sentem superiores ao povinho. Porque no fundo, não passam de egoístas.

Eurydice disse...

Bell, eu tenho posto a mim mesma duas hipóteses: poderá tratar-se de "simples" insensibilidade, que as pessoas exorcizam através do cultivo da tal "consciência política", pelo que conseguindo ver a floresta não vêem as árvores; ou então é ao contrário, e é a própria consciência política que ESCONDE a sua insensibilidade REAL às pessoas concretas, que não aceitam tal como são nem, consequentemente, respeitam na sua realidade - imperfeita como a de todos nós... esquecendo-se que, dada a dureza da luta pela sobrevivência, muitas dessas pessoas não têm sequer culpa de serem tão curtos os seus horizontes.
Junto a tua tese à galeria, e pode ser que um dia se faça luz com todos estes contributos! :))