terça-feira, agosto 28

Há prisões piores que as palavras 2


Li “Diário das Minhas Viagens – visitas humanitárias em África, no Camboja, no Paquistão e no Equador”, por Angelina Jolie (Edição Casa das Letras).


Sem dúvida que se trata de uma viagem muito pessoal, pelo lado mais negro da Humanidade. No entanto, não deixa de ser uma experiência colectiva, que nos marcará para sempre, embora a grande maioria de nós (a começar por mim, claro) deslize pelo dia-a-dia sem marcas.
Ver as imagens na TV, é um primeiro passo, mas não me compromete o suficiente… ler estes diários, pensar duas vezes no que gasto, no que dou, no que falo e, sobretudo, como lido com os outros…é um segundo passo. Mas não me compromete o suficiente, nada me compromete o suficiente, pois não senti na pele, nos olhos, nos ouvidos e no estômago o que aquelas pessoas sentem, nem mesmo o que a autora sentiu.

Sinto-me abalada.

Abalada, mas animada por saber que existem tantas organizações que ajudam… confesso que não tinha ideia.
Fiquei com uma ideia concreta de como elas o fazem, do que mais precisam, das suas maiores dificuldades e conquistas (exactamente de encontro às expectativas da autora) e, last but not least, como ajudá-los a continuar.

Eu era a americana. Por vezes, durante a noite, tive orgulho nisso e, por vezes, não. Todos pareciam sentir o mesmo em relação ao seu próprio país. Ninguém naquela mesa queria ter razão. Ninguém pretendia saber as respostas. Alguns de nós éramos mais optimistas do que outros, mas todos escutavam respeitosamente e aprendiam com os outros.
Se é esta a essência desta organização – ou a essência do que são as Nações Unidas --, então consegui perceber esta noite como pode ser essa simplesmente a resposta.”


Compreendo perfeitamente que, depois de conhecer aquelas pessoas e ouvir as suas histórias de vida, a autora tenha sentido a necessidade de adoptar crianças refugiadas órfãs. Tudo o que possamos fazer, a nível pessoal, parece pouco…mas “Se todos fizermos um pouco, podemos fazer muito.”

Para mim a questão não passa por andar a pensar nas pessoas refugiadas o dia todo, ou vender o carro, o frigorífico e o telemóvel, muito menos ir para os campos trabalhar (embora esta última opção fosse a mais lógica entre todas…), mas sim ter presente que tenho oportunidades infinitas para ser feliz, só depende de mim. Como a autora sublinha, as histórias destas pessoas mais do que nos fazer sofrer, devem servir como exemplo de força, de valorização do que temos, da família e dos amigos.

Reforça aquilo que tenho vindo a tomar consciência ao longo deste último ano: que podemos fazer tanto por uma pessoa no contacto do dia-a-dia, simplesmente sendo calorosa e ouvi-la um pouco, dar-lhe alento para enfrentar uma semana inteira de solidão, ou contando-lhe outros casos idênticos, dar-lhe esperança e força para vencer uma doença grave, ou encorajá-la a continuar os tratamentos, pois será a única forma de se sentir melhor aos poucos…

Posso, sem dúvida, ajudar os que estão longe, mas sobretudo posso fazer ainda melhor pelos que estão mesmo ao meu lado.

http://www.maxima.xl.pt/0607/soc/200.shtml

3 comentários:

Eurydice disse...

Muito bom, Terra! :)

. disse...

Sem dúvida, não podia estar mais de acordo com esta perspectiva de ver a vida: apreciar e dar valor ao que temos e perceber que são as pequenas coisas - família, amigos, até mesmo um simples gelado, uma imagem, um gesto - que marca a diferença e nos faz ser feliz. Já tinha passado pelo livro e fiquei na dúvida se o deveria comprar ou não. Acho que o vou comprar. :)

Letícia disse...

:)
foi um prazer ajudar.