segunda-feira, abril 23
Terra da Fraternidade
Carros munidos de altifalantes têm sido vistos pelas ruas: debitam cantigas de Zeca Afonso.
Enchem-se as caixas de correio de folhetos detalhando as comemorações locais-oficiais.
Folhetos muito bonitos, elaborados pelos departamentos competentes das câmaras. Ele é espectáculo "multidisciplinar", ele é fogo de artifício, hastear da bandeira, deposição de flores junto ao monumento à resistência, e a inevitável sessão solene... e o lançamento de um livro de fotografias sobre o ecossistema local.
E é isto que nos resta?
Ouvimos José Afonso uma vez no ano e comemoramos uma data que tem sido esvaziada de sentido ano após ano?
Não me espanto da vacuidade das comemorações. Também eu não sei como comemorar o 25 de Abril. Ninguém sabe como COMEMORAR o que devia estar VIVO em vez de estar apenas disponível para ser COMEMORADO.
Ninguém sabe - eu, pelo menos, NÃO SEI - como e para onde fugiu aquela fé imensa que nos reuniu no Primeiro de Maio de 1974.
Foi a ignorância que nos perdeu? A ingenuidade? A ganância?
Que resta dessa admirável postura comprometida com o futuro?
Trapalhices múltiplas, um lodaçal, uma tristeza, um apagamento vil, embrulhados em retórica e promessas de sucesso instantâneo à sombra do grande timoneiro. Embrulhados nos media que temos, que as notícias cada vez deixam mais tinta agarrada aos dedos e aos olhos.
Perdemos a TERRA DA FRATERNIDADE.
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2 comentários:
Caro rouxinol Castafiore:
o seu primeiro introíto diz tudo.
Apelo aos seus sentimentos filosóficos latentes para se auto questionar, ou fazer aquilo que eu chamo "pensar à contrário".
"Se é isto que nos resta" é porque, para mim as coisas, não estão no plano e análise de se dizer "é tudo o que nos resta", mas sim no plano de análise de se criar e manter uma realidade artifical que leva a as coisas serem " isto que nos resta".
Até a "realidade chamada "é isto que nos resta" é criada para manter um enorme estado de ilusão.
Por isso é que não vejo já a questão somente pelo facto de a data ter sido "esvaziada ou não".
Penso que, verdadeiramente a data nunca significou nada, para quem se apropriou da data - os vencedores da revolução.
Estão ao mesmo nível do que Fidel Castro fez ao apropriar-se da "Revolução Cubana".
O sentido verdadeiro daquilo nunca existiu, é a conclusão que eu retiro desta "palhaçada" a que se chama democracia portuguesa.
E caso tenha existido não era cognoscível.
E caso fosse cognoscível não seria defendido nem divulgado como tal pelos imbecis promtores desta especie de revolução.
Diz-me "vacuidade".
Eu digo: mas poderia ser de outra maneira?
Porquê não ser "o vacuo" (a ideia de vacuo) a comemorar este ovo estrelado decrépito a que se dá o nome de 25 de Abril, em Portugal?
O "vacuo" é um produto, está reduzido à categoria de produto "comercializável", conceptual, em termos de ocupação do espaço mental das pessoas;isto é, da população, no sentido de que estas acreditem (no sentido de crença baseada em fezada mistica irracional) que o que se passa agora é algo remotamente justo e correcto como democracia e como país.
É preciso pois "vender" e vender bem; a ocupação do espaço mental por "comemorações tontas" e desprovidas de qualquer sentido, porque essa "atitude" ajuda a manter o rebanho a acreditar que "os democratas" (especialmente os de esquerda, embora não só...) não são aquilo que efectivamente são: um conjunto de FDP´S e de falhados.
Como tal, para que não se note isso precisam, também, de fazer a redução.
Qual é a redução?
É reduzir os cidadãos a terem que se baizar até ao nível absolutamente medíocre deles, ou seja, incentivando os cidadãos a "comemorarem e participarem" nesta fantochada imbecil em que isto tudo está transformado.
A descerem ao nível medíocre dos actuais políticos- nível onde, aliás, se sentem eles, extremamente bem.
É o charco comatoso que condiz com esta gente( toda: dos partidos todos.)
Fala-me de vida e de morte.
Eu acredito, AGORA, que aquilo, contrariamente ao que se julga nunca chegou a nascer.
Foi apenas e nada mais do que a transferencia de uma oligarquia de escleróticos e senis esterotipados e a cheirar a naftalina bafienta e fora de prazo, e a cairem de podre para o banco de suplentes ou para o jardim das tabuletas.
Por uma outra oligarquia de "meninas e meninos bem" de há 40 anos atrás - o equivalente à epoca; à actual geração morangos com açucar - um conjunto de cretinos a cheirar a leite e que acham (são vendidos como produto conceptual) que são rebeldes.
O conjunto de palhaços políticos mas não só daquela altura eram - comparativamente - a geração actual morangos com acucar do tempo de há 40 anos atrás.
Serviram-se dos militares para lhes resolverem o problema, depois correram com eles e a partir daí, montaram este circo que não funciona porque o urso está sempre constipado.
E acredito que não funciona porque foi desenhado para não funcionar.
Foi desenhado para manter
"supremacia " e os recém novos e adquiridos previlegios, da noca casta, embora sob uma roupagem democrática, na posse da mesma pseudo classe elitista que tem andado nos ultimos 400 anos pelo menos a rebentar com este país.
A pseudo classe elitista; como os tempos exigiam uma mudança conceptual de produto, dividu-se em várias "familias democráticas"
( fica sempre bem e é chique) e desde aí finge - ela toda - que é democrática ou que acredita na democracia.
O resultado é o lodo viscoso.
Aquela fé imensa do primeiro de maio de 1974 nunca existiu.
Foi criada.
Ela "fugiu" porque nunca foi verdadeira no sentido em que viria a ser seguida. Ou desejada vir a ser seguida.
Antes foi a promessa de um sentimento poderoso transmutada para uma imensa multidsão que, a partir daí, necessitava de sentir esse "power" psicológico que emanava de si mesma para si mesma e se auto alimentava.
Os políticos apenas aproveitaram a boleia. Todos os políticos da época.
Mas não era verdadeiramente real , do ponto de vista dos políticos e da "geração de adeptos da mudança".
O que perdeu - o que se perdeu ,foi algo que nunca chegoua ser ganho ou dado por adquirido que tinha sido ganho.
A postura comprometida com o
futuro... era uma ilusão.
Agora sei isso.
Em meados dos anos 80 , após a "revelução" alguns vizinhos meus emigraram para a Suiça e França.
Isto são pequenos sinais. Para mim, na altura não os percebi.
Agora a uma outra leitura da situação percebe-se em parte que as pessoas sairam e saiam por razões que não tinham só e na totalidade que ver com a o anterior regime.
Saiam porque - INSTINTIVAMENTE - sentiam, percebiam, apreendiam que isto era uma merda já na altura e que aqui estavam cortados.
Do ponto de vista pessoal e sabendo o que sei hoje, lamento imenso não ter saido.
Este "país" não merece NADA.
E de mim não levará nada.
Quanto ao "embrulho" da ultima parte do seu post, é aquilo que sempre foi e nunca deixou de ser.
Um grande timoneiro, imbecil
( porque formado na linha de montagem de todos so grandes imbecis da nossa história colectiva)
igual a tantos outros imbecis, que promete bacalhau a pataco, rodeado de uma corte de parasitas com hemorroídas, que , para ocultar toda a sua mediocridade imensa debita ilusões de sucesso à escala industrial.
Que mais sabem eles fazer?
Foi assim com Cavaco, com Guterres, com Barroso, Com Santana/Portas, porque o laboratório de montagem de onde esta gente toda saiu é todo o mesmo.
É como um produto Mcdonalds. Tudo é igual mas tudo parece ser diferente,embora melhor.
Mas na realidade é pior.Que a outra alimentação.
Portugal é o Mcdonalds do ultra mau, parecendo bom.
Quanto à fraternidade, ela nunca existiu.
Existiu como sentimento para quem a viveu. Nunca existiu como conceito a ser efectivado.
Foi aproveitada como mais um slogan.
Tudo são clichés e slogans, tudo à partir de 1976 são clichés e slogans.
O resultado é isto: um buraco a céu aberto onde deixaram à solta criancinhas políticas a rebentar com o que ainda resta para rebentar.
É por tudo isto (e mais imenss outras coisas) que penso que tudo isto é uma farsa, mas mal feita e mal representada com maus actores e desde 74.
Nenhum dos partidos políticos, por exemplo, é "real".
São "reais" no sentido que existem, tem personalidade jurídixa e nós ouvimos os animais anormais amestrados que deles fazem parte a guinchar patacoadas qual delas a mais inconsequente e absurda.
Ms no sentido real do que é - deveria ser um partido político, nenhum deles existe.
Pensar à contrário:
Porque não querem.
O esforço que gastam para serem imbecis é o mesmo que gastariam caso decidissem não ser imbecis.
E esta gente optou pela imbecilidade de actuação pura.
Optaram pelo mau e não pelo bom.
Optaram por ser maus. Por não fazer. Por fazerem um esforço de forma continuada e com a convicção de obrigatoriedade de que deveriam ser mesmo cretinos a agir.
A cretinice como 2modus vivendi".
O resultado:
"Estamos no Estado a que isto chegou"
Se qualquer partido dos partidos actuais disser que tem a "solução"
ESTÁ A MENTIR.
DESCARADAMENTE!
Estão todos COMPLETAMENTE À NORA acerca do que fazer.
Por isso como cobardes que são escondem-se atrás de Bruxelas.
Na banda desenhada todo o bom heroi precisa de um vilão, nós criamos o espaço " Fun center" para vilões.
Os que são contra Bruxelas.
E depois noutros assuntos rodam as opiniões uns e os outros.
E depois joga-se "este jogo" apalhaçado.
Temos os papeis atribuidos.
Vilões, e herois, donzelas indefesas para salvar( portugal) e ogres( Bruxelas ou os americanos...) e por ai em diante.
Fraternidade?
O que esta gente queria era poder.
Poder no sentido mais amplo e rstrito que se possa ter.
Se --- para obter poder --- se teria que vender "fé imensa" e "postura comprometida com o futuro", então engolia-se um sapo gordo,verde, grande e bexigoso e vendia-se "fé imensa" e "postura comprometida com o futuro"
A tempestade foi assim cavalgada até amainar.
Agora chegamos à Xabregas e tudo é feio. O tapume que tapava a falta de beleza caiu de podre.
Sic Trnsit Gloria mundi. Menos a Glória.
Caro Pedro: eu sabia que podia contar consigo para uma opinião coerente e detalhada.
Registo a sua resposta às minhas interrogações. Concluo que a ignorância de uns e a ganância de outros tiveram um papel nisto tudo.
Obrigada por se dar ao trabalho de contribuir para esta reflexão. :)
Abraço!
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