sexta-feira, maio 18
Crepúsculo interior
O último dia de uma semana difícil e dura de ponta a ponta. Um cansaço à beira da exaustão. Uma melancolia algo neurótica. Preocupações várias.
Quando entro no táxi, a caminho de casa, vejo um homem de cabelos brancos e pequena barba cuidada muito seventies. A música, bem alta, é daquele género sentimental com imensa câmara de eco. Um italiano com voz de açúcar mascavado canta algo triste e apaixonado. E logo a seguir, em espanhol, outro cantor informa-nos que tudo se passa à "media luz- crepusculo interior- una media luz de amor".
Do velho tango pouco sobra, afogado nos efeitos da câmara de eco, liquefeito e adoçado pela electrónica e pelas idiossincrasias do cantor. Era de partir corações de titânio! Ficaria lindamente com aqueles quadros de meninos rechonchudos com duas lágrimas a correr pelas faces rosadas.
E de repente dou comigo a sorrir enquanto olho pela janela da direita. Aquele taxista lírico, apreciador de música sentimental, comove-me e ao mesmo tempo reconcilia-me com o mundo.
Há lá paradoxo maior do que um taxista sentimental? Não há angústia metafísica que resista a esta invasão da vida!
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