Alquimia 2

Ainda a propósito da alquimia, uma nota marginal, que me foi recordada pela palestra de ontem.

Há cerca de onze anos atrás, tive um sonho que me impressionou muito, pois não lhe encontrava sentido mas ao mesmo tempo sentia que algo de importante me trazia.

Nesse sonho, uma sala completamente branca e brilhante, como se toda revestida de cerâmica, tinha o chão coberto de arroz vermelho. Havia também uma janela cheia de lua na parede do fundo. Era apenas isto, e acordei com uma sensação de urgência.

O simbolismo era-me completamente desconhecido, e peguei no excelente Dictionnaire des Symboles de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant na esperança vaga de ter de procurar "arroz" e "vermelho".

Espantada, descubro uma referência a arroz vermelho: para a alquimia chinesa, o arroz vermelho é símbolo de alimento espiritual, isto é, de luz e de conhecimento. O arroz transforma-se alquimicamente em cinábrio. É o equivalente da obra ao rubro do hermetismo ocidental.

Ora uma coisa eu sei: quando em esoterismo se fala em "conhecimento" "aprendizagem" sabedoria ou iniciação, o significado verdadeiro é SOFRIMENTO, RUPTURA, GESTÃO DE CONFLITOS. Meditando um pouco sobre estes dados, conclui que tinha de enfrentar isso mesmo, e não valia a pena alimentar outro tipo de esperanças, como tinha andado a fazer nos últimos tempos.

Qual é a perplexidade neste caso?

É que eu NADA SEI DE ALQUIMIA. Muito menos da CHINESA. Onde e como fui buscar aqueles símbolos tão oportunos para me meter debaixo do nariz aquilo que eu andava a tentar minimizar? Como é que eu soube fazer uso de algo tão perfeitamente distante de mim?

A pergunta que me ficou foi: haverá realmente arquétipos colectivos, ou mesmo universais recebidos pelo inconsciente como património cultural?

Não basta ler Mircea Eliade ou Carl Jung para ter respostas.
Eu continuo à procura de compreender.

Aceitam-se contributos!